Déa e Oswaldo Coufal

DÉA COUFAL

            A história de um povo também pode ser contada por meio dos nomes das ruas das suas cidades. Os endereços que escrevemos em documentos, remetentes e destinatários de correspondência, retratam características de um território, sinalizam acontecimentos marcantes e, em muitos casos, são nomes de pessoas, cujas histórias de vida, a grande maioria dos cidadãos desconhece. É, sobretudo, entendida como uma forma de homenagear post mortem, aqueles que se destacaram em vida. Esse é o caso de Déa Coufal, moradora do bairro Ipanema desde a sua criação nos anos de 1930.

Déa Cezar nasceu no dia 20 de maio de 1904. Criada numa família de boa posição social e financeira pode estudar na melhor escola que havia em Porto Alegre na época, o Colégio Sevigné. Dirigida pelas irmãs de São José, vindas da França, a Instituição propiciou à menina Déa, além dos conhecimentos de uma Escola Normal, o desenvolvimento de um grande sentimento de caridade.

Moça bonita, Déa chegou a vencer um concurso de beleza organizado pela Sociedade Jocotó no Bairro Tristeza. Na ocasião, o próprio Dr. Mário Totta colocou a coroa de miss em sua cabeça. Nos anos de 1920, conheceu Oswaldo Coufal, engenheiro, empresário e loteador do bairro Ipanema, e com ele pode concretizar seus ideais de ajuda ao próximo.

Foi por iniciativa de Déa Coufal que teve início, em 1935, a construção da capela de Ipanema, atualmente, Santuário Nossa Senhora Aparecida. Oswaldo Coufal cedeu os lotes para a obra, conforme relata o Padre Antônio Lorenzatto: “Pediu à sociedade loteadora a doação dos terrenos 1 e 58 da quadra 13, com frente para a praça central, Avenida Tramandaí e Rua Leme. Isto lhe foi concedido. Estando assegurado o espaço para a construção do templo, dona Déa viajou para Aparecida em São Paulo. Adquiriu uma estátua de Nossa Senhora Aparecida com as mesmas dimensões da original, pediu para que um sacerdote a benzesse dentro do Santuário Nacional”.

Tempos depois, fundou a Casa da Criança Inválida, atualmente conhecida por Educandário São João Batista. A instituição foi construída com os recursos de famílias ricas do bairro, entre elas, senhoras da sociedade, as quais assumiram o projeto juntamente com ela. A casa era destinada às crianças portadoras de deficiência física devido à paralisia infantil.

De fato, Déa Coufal não se destacou somente nas ações benemerentes pelo bairro, considerada uma mulher à frente de seu tempo, ela foi a segunda gaúcha a receber carta de habilitação. Trocou sua charrete (puxada pelas éguas Rosilha e Boneca) por um automóvel Ford 39 que ela mesma nomeou de “Navalha”. Essa metáfora se deve ao fato de que, naquela época, sempre que um carro ultrapassava outro, chamava-se o condutor de navalha, aquele que tinha passado a faca. E com seu moderno carro, para a época, a jovem senhora se deslocava com maior rapidez, atendendo a todos que tinham necessidades.

Faleceu em 1967, no Rio de Janeiro, onde foi para tratamento de saúde. Um ano  após sua morte, por solicitação do Conselho Comunitário de Ipanema e aprovação na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, foi alterado o nome da Rua Ipanema para Rua Déa Coufal. A lei estabelecia ainda que na placa indicativa da rua constasse a seguinte legenda; “Benfeitora do Bairro Ipanema”. Atualmente, a Rua Déa Coufal, uma avenida extensa, com aproximadamente dois quilômetros, presta homenagem à obra de Déa. O logradouro começa na Avenida Guaíba, cruza a Coronel Marcos e vai terminar na Avenida da Cavalhada.